Dor Crônica
A dor crônica é definida como: dor com permanência maior a 3 meses, que pode ser contínua ou recorrente, geralmente ocorre após uma lesão ou trauma tecidual, levando o paciente a ter a sensação de padecer uma lesão que não se cura. Hoje o conceito de dor crônica vem sendo visto por si só como uma entidade nosológica, e não como apenas um sintoma.
As causas mais comuns de dor crônica vistas no consultório incluem doenças como o câncer, artrite, diabetes, hérnia de disco, dor neuropática, síndrome da dor regional complexa, fibromialgia e cefaleia crônica.
Sabemos que os pacientes que padecem de dor crônica acabam sendo impedidos de realizar tarefas básicas da vida diária, sofrendo limitações psíquicas e funcionais, impactando diretamente sobre a qualidade de vida, o que acaba gerando outras doenças como a depressão.
Diversas estratégias farmacológicas vêm sendo utilizadas na atualidade para a abordagem da dor crônica como: o uso de AINES (anti-inflamatórios não esteroidais), fármacos análogos do GABA (ácido gammaminobutírico), antidepressivos tricíclicos e ISRS (inibidores seletivos da receptação de serototina), além dos opioides. A necessidade de uso contínuo e dose dependente acaba trazendo diversos efeitos adversos ou até mesmo a refratariedade do quadro. Os fitocanabinoides vem apresentando evidências de melhora tanto da qualidade de vida como na redução dos outros medicamentos quando usado em forma adjuvante no controle da dor crônica.
Os melhores benefícios ao uso de canabinoides para a dor crônica foram vistos em pacientes com dor crônica de tipo neuropática e associada ao câncer. Na dor neuropática (em quadros que comprometem a integridade do nervo, gerando quadros de dor muito intensa), o uso do canabidiol parece diminuir a atividade neuronal que transmite a sensação de dor para o cérebro. A dor neuropática está relacionada ao quadro da Síndrome da Dor Regional Complexa, onde, para se ter uma melhor idéia do processo, sabe-se que a dor, após se cronificar, vai ficando “gravada” em uma parte da nossa medula espinhal (um “cordão neural” que liga nosso cérebro e seus comandos aos órgãos e todo o corpo humano) conhecida como raiz dorsal. Ou seja, o estímulo da dor já não se encontra mais na região afetada, lesada ou traumatizada. É como se explica a “síndrome da dor do membro fantasma”: quando um indivíduo tem de amputar a perna ( p.ex. gangrena diabética dos dedos do pé, trauma de trânsito, etc) e, mesmo após a amputação , o paciente refere ainda no leito hospitalar que “a dor continua lá”, nos dedos do pé amputado, quando na verdade esse estímulo gravado na raiz dorsal da medula espinhal, emitindo estímulos dolorosos para o cérebro , mesmo depois do membro amputado.
Um estudo publicado na Prática Pain Management apoia o uso da cannabis medicinal, sob a supervisão de um profissional de saúde, como opção de tratamento segura e eficaz para dor crônica e melhor qualidade de vida. Vale destacar aqui que o “potencial viciante” do canabidiol é muito menor quando comparado ao dos opióides (morfina, tramadol, codeína, heroína). Por este motivo, nos quadros de dor crônica, acabamos dando preferência ao canabidiol na hora de prescrever o medicamento, ao contrário do que acontece com as outras condições neurológicas.
• • •Referencias: •BACHHUBER MA, SALONER B, CUNNINGHAM CO, BARRY CL. Medical cannabis laws and opioid analgesic overdose mortality in the United States, 1999-2010. JAMA Internal Medicine. 2014; 174(10): 1668-73. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25154332>. Acesso em: 26 de setembro de 2019.
NIELSEN S, GERMANOS R, WEIER M, POLLARD J, DEGENHARDT L, HALL W, BUCKLEY N, FARRELL M. The Use of Cannabis and Cannabinoids in Treating Symptoms of Multiple Sclerosis: a Systematic Review of Reviews. Curr Neurol Neurosci Rep. 2018;18(2):8. Disponível em: <https://www. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29442178>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
WHITING PF, WOLFF RF, DESHPANDE S, DI NISIO M, DUFFY S, HERNANDEZ AV, KEURENTJES JC, LANG S, MISSO K, RYDER S, SCHMIDLKOFER S, WESTWOOD M, KLEIJNEN J. Cannabinoids for Medical Use: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA. 2015;313(24):2456-73. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2338251>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
Epilepsia Refratária
A crise epiléptica é definida como descargas elétricas anômalas que ocorrem no cérebro, interrompendo de forma temporal o funcionamento do órgão. Durante a crise epiléptica surgem alterações da consciência, sensações e movimentos involuntários. •Hoje como terapêutica paa a doença contamos com os medicamentos anticonvulsivantes e o tratamento cirúrgico. Alguns dos nossos pacientes acabam não respondendo de forma satisfatória às terapêuticas convencionais, sendo considerados como refratários ao tratamento. Este grupo de pacientes pode ser beneficiado com o uso dos canabinóides associado a terapêutica convencional, em busca de um melhor controle da doença com menor número de crises, resultando em uma melhor qualidade de vida.
No Brasil se levou a cabo pelo grupo do Professor Elisaldo Carlini um ensaio clínico, no qual pacientes epilépticos refratários a terapêutica convencional foram divididos em 2 grupos dos quais um recebeu CBD e o outro o placebo; foi observado que, no grupo de 8 pacientes que fez a utilização do CBD, 4 tiveram as crises abolidas e 3 apresentaram redução significativas no número de episódios.
Em 2013 um medicamento, que contém o CBD como ingrediente ativo, recebeu a aprovação pelo FDA (Food and Drug Administration – USA) para o tratamento das síndromes de Dravet e Lennox – Gastaut, ambas síndromes genéticas marcadas por levar o paciente a encefalopatia epiléptica, condição rara e grave de epilepsia infantil resistente aos medicamentos anticonvulsivantes. Sete estudos de acesso expandido foram concedidos pelo FDA, para o tratamento com medicamento à base de canabidiol (Epidiolex®), sendo observados resultados favoráveis, em especial na população pediátrica refratária aos tratamentos convencionais.
Foi observado também que extratos ricos em CBD (mas com proporções menores de outros canabinóides) parecem apresentar um perfil terapêutico melhor do que o CBD purificado (isolado), pelo menos nesta população de pacientes com epilepsia refratária. As raízes dessa diferença provavelmente se devem aos efeitos sinérgicos do CBD com outros fitocanabinóides, embora já seja largamente usado no meio médico e em pesquisas científicas, onde é conhecido como efeito “entourage” (ou efeito comitiva).
Hoje, o uso do canabidiol nos casos de epilepsias refratárias tem respaldo científico dos órgãos reguladores no Brasil: ANVISA e o Conselho Federal de Medicinal. (resolução CFM 2113/2014): “Está autorizado o uso compassivo do canabidiol no tratamento de epilepsias em crianças e adolescentes que sejam refratárias aos tratamentos convencionais.”
Referencias:
CUNHA JM, CARLINI EA, PEREIRA AE, RAMOS OL, PIMENTEL C, GAGLIARDI R, SANVITO WL, LANDER N, MECHOULAM R. Chronic administration of cannabidiol to healthy volunteers and epileptic patients. Pharmacology. 1980;21(3):175-85. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/7413719>. Acesso em 06 de outubro de 2019.
DEVINSKY O, CROSS JH, LAUX L, MARSH E, MILLER I, NABBOUT R, SCHEFFER IE, THIELE EA, WRIGHT S. Cannabidiol in Dravet Syndrome Study Group.Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome. The New England Journal of Medicine, 2017; 376(21):2011-2020. Disponível em: <https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1611618>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
DEVINSKY O, PATEL AD, CROSS JH, VILLANUEVA V, WIRRELL EC, PRIVITERA M, GREENWOOD SM, ROBERTS C, CHECKETTS D, VANLANDINGHAM KE, ZUBERI SM; GWPCARE3 STUDY GROUP. Effect of Cannabidiol on Drop Seizures in the Lennox-Gastaut Syndrome. The New England Journal of Medicine. 2018b;378(20): 1888- 1897. Disponível em: <https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1714631>. Acesso em 06 de outubro de 2019.
THIELE E, MARSH E, MAZURKIEWICZ-BELDZINSKA M, HALFORD JJ, GUNNING B, DEVINSKY O, CHECKETTS D, ROBERTS C. Cannabidiol in patients with Lennox-Gastaut syndrome: Interim analysis of na open-label extension study. Epilepsia. 2019; 60(3): 419-428. Disponível em: <https://www.ncbi. nlm.nih.gov/pubmed/30740695>. Acesso em 22 de setembro de 2019.
ELLIOTT J, DEJEAN D, CLIFFORD T, COYLE D, POTTER BK, SKIDMORE B, ALEXANDER C, REPETSKI AE, SHUKLA V, MCCOY B, WELLS GA. Canna- bis-based products for pediatric epilepsy: A systematic review. Epilepsia. 2019; 60(1): 6-19. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pub- med/30515765>. Acesso em: 06 de outubro de 2019.
PAMPLONA FA, ROLIM DA SILVA L, COAN AC. Potential clinical benefits of CBD-rich Cannabis extracts over purified CBD in treatment-resis- tant Epilepsy: observational data meta-analysis. Frontiers in Neurology, 2018; 9: 759. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pub- med/30258398>. Acesso em: 18 de setembro de 2019.
Doenças Neurodegenerativas
Definição genérica para um grupo de condições crônicas que afetam os neurônios em diferentes regiões do sistema nervoso, sendo responsável por diversos sintomas: transtornos das funções superiores como: memória, consciência, percepção, atenção, fala, pensamento, vontade, formação de conceitos e emoção, transtornos do sono, distúrbios dos sentidos como: visão, audição, olfato, tato e paladar e mau funcionamento dos músculos. •Dentro desse grupo conhecido como doenças neurológicas degenerativas as mais conhecidas são o Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, Esclerose Múltipla, Esclerose lateral amiotrófica (ELA), Distrofia Muscular, Atrofia muscular espinhal (AME), etc.
As doenças neurodegenerativas representam, hoje em dia, uma das principais causas de morte nos países industrializados. Eles são caracterizados por uma perda de neurônios em determinadas regiões do sistema nervoso, em especial a região do tálamo e no córtex cerebral. Uma série de genes mutantes e toxinas ambientais têm sido implicados na causa de distúrbios neurodegenerativos, mas o mecanismo permanece em grande parte desconhecido.
Atualmente, a inflamação, tem sido implicada como um mecanismo crítico, responsável pela natureza progressiva da neurodegeneração. Como, atualmente, existem poucas terapias para a ampla gama de doenças neurodegenerativas, os cientistas ainda estão em busca de novas abordagens terapêuticas para o problema. Uma contribuição precoce de estratégias neuroprotetoras e antiinflamatórias para esses distúrbios parece ser proveniente do suo medicinal da cannabis. Neste sentido, os derivados da maconha atraíram especial interesse, embora esses compostos sempre levantaram vários problemas práticos e éticos para o seu potencial abuso.
Por exemplo, para os pacientes que precisam de um certo incentivo para realizar suas tarefas diárias, devido ao grau de apatia já estar bem elevado, já existem relatos de uma melhora, especialmente se no medicamento também estiver presente o composto THC (em uma quantidade mínima).
Com a melhora da qualidade de vida e nas tarefas diárias observa-se uma evolução positiva também nos tratamentos de suporte, como a fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, dentro outros; o que pode levar o paciente a ter uma melhora geral no quadro de sua patologia, sendo descrito, por vezes, como uma “involução (reversão de sintomas) em seu quadro clínico”.
Conforme estudo publicado na Frontiers in Neurology, a combinação do THC com o canabidiol ajuda a relaxar a musculatura, tendo efeito em reduzir a espasticidade muscular, também presente nas demências. Isso ajuda a reduzir a dor nesses pacientes, facilitando a caminhada.
Especialmente nesses casos, é importante lembrar que o uso do canabidiol não altera o curso da doença, ou seja, não vai reverter ou impedir o desenvolvimento da demência. A expectativa aqui é busca melhorar a sintomatologia e a qualidade de vida desses pacientes; mas como dito antes, com a facilidade proporcionada peo cannabidiol na espasticidade, agitação dentro outros sintomas, o paciente começa a evoluir nas terapias coadjuvantes e, por vezes, a família relata que o paciente melhorou suas funções diárias, assim como a cognição em parte, levantando a hipótese ainda não comprovada dos benefícios neuroprotetores e neurorregeneradores do cannabidiol.
Referencias:
BAR-LEV SCHLEIDER L, MECHOULAM R, SABAN N, MEIRI G, NOVACK V. Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy. Scientific Reports. 2019; 9(1): 200. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41598-018-37570-y>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
SCHUBERT D, KEPCHIA D, LIANG Z, DARGUSCH R, GOLDBERG J, MAHER P. Efficacy of Cannabinoids in a Pre-Clinical Drug-Screening Platform for Alzheimer’s Disease. Molecular Neurobiology. 2019; 1-12. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007/s12035-019-1637-8>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
LIU CS, CHAU SA, RUTHIRAKUHAN M, LANCTÔT KL, HERRMANN N. Cannabinoids for the Treatment of Agitation and Aggression in Alzheimer’s Disease. CNS Drugs. 2015;29(8):615-23. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007/s40263-015-0270-y>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
RUTHIRAKUHAN M, LANCTÔT KL, VIEIRA D, HERRMANN N. Natural and Synthetic Cannabinoids for Agitation and Aggression in Alzheimer’s Disease: A Meta-Analysis. The Journal of Clinical Psychiatry. 2019; 80(2). pii: 18r12617. Disponível em: <https://europepmc.org/abstract/ med/30753761>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
Alzheimer
Doença neurodegenerativa marcada pela perda progressiva da função mental, devido a degeneração neuronal causada pelo acumulo de uma proteína anômala conhecida como beta amiloide. As causas estão associadas dentre uma série de genes mutantes e toxinas ambientais, mas os mecanismos permanecem em grande parte desconhecidos. Atualmente, a inflamação, tem sido implicada como um mecanismo crítico, responsável pela natureza progressiva na neurodegeneração.
Atualmente as terapêuticas convencionais se baseiam em medidas de suporte com o intuído de diminuir os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Alguns estudos apontam que o sistema endocanabinoide teria um papel relevante nos processos inflamatórios, oxidativos e neurodegenerativos da doença de Alzheimer. Os canabinoides poderiam configurar um ponto estratégicos como efeito neuroprotetor e anti-inflamatório para o tratamento adjuvante da doença.
Os efeitos positivos relatados do uso do canabidiol nas demências são em relação aos quadros depressivos, de agitação e mesmo de apatia ou perda de apetite. Um relatório da Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health sugeriu que a cannabis medicinal pode ser eficaz para o tratamento de sintomas neuropsiquiátricos associados à demência, como:
Agitação;
Desinibição;
Irritabilidade;
Comportamento motor e vocalização aberrante;
Distúrbios de comportamento noturno.
Doença de Parkinson
Parkinson é uma doença neurodegenerativa de progressão lenta que acomete principalmente os neurônios da substância negra do cérebro, os principais responsáveis pelo circuito dopaminérgico cerebral. Os pacientes de forma progressiva apresentam perda de olfato, tremor de repouso, rigidez, lentidão, instabilidade postural e demência.
No Brasil, os estudos com a doença de Parkinson, iniciaram efetivamente em 2014, quando um grupo de cientistas da USP de Ribeirão Preto realizou um estudo com pacientes portadores dessa patologia. O estudo foi duplo-cego, ou seja, nem os pacientes nem os médicos sabiam quem estava tomando canabidiol ou placebo. Todos os pacientes continuaram tomando sua medicação habitual para Parkinson. Ou seja, o canabidiol foi acrescentado aos medicamentos ingeridos. Na avaliação antes / depois foi constatado que os pacientes nos dois grupos apresentaram melhora no quadro de tremores, alguns pacientes com quase 100%.
Esses dados demonstraram a relação dose / eficácia indivíduo-dependente, ou seja, cada paciente terá sua dose eficaz estipulada sob supervisão médica, já que a dose varia de paciente para paciente. Ainda não se considera o canabidiol como primeira escolha para o tratamento dos pacientes com Parkinson, mas seus efeitos terapêuticos como terapia complementar e melhora na qualidade de vida já são observados por vários estudos cientíificos. Na prática clínica, observa-se em boa parte dos pacientes uma melhora acentuada dos tremores parksonianos, levando o mesmo a reassumir tarefas como se alimentar, deambular e progredir na fisioterapia.
Esclerose Múltipla
•Doença marcada por áreas de desmielinização no cérebro e medula espinal. Considerada como uma doença autoimune que cursa com períodos de exacerbação e remissão, levando o indivíduo de forma gradual a incapacidade. Os principais sintomas são: alterações visuais, fraqueza, espasticidade, incontinência urinária, déficit cognitivo leve.
Os tratamentos atuais disponíveis se baseiam em imunosuprimir e imunomodular o paciente para prevenir exacerbações, além das medidas de suporte durante o curso crônico da doença.
Ensaios clínicos com o Sativex ® utilizando canabinoides como o THC e CBD comprovaram a segurança e eficácia no tratamento de sintomas neuromotores como: espasmos, distonias e espasticidade causados pela Esclerose Múltipla, com destaque clinicamente relevante da espasticidade resistente, em comparação com o ajuste isolado de medicamentos antiespasticidade de primeira linha. A melhora da espaticidade parece ser a principal responsável pelo paciente retornar as suas atividades fisioterápicas com boa reposta aos estímulos.
Em 2017, o Mevatyl ®, spray oral contendo os canabinoides THC e CBD na sua composição foi registrado como o primeiro medicamento a base de Cannabis no Brasil. Este medicamento é indicado para a redução dos espasmos decorrentes da esclerose múltipla. Necessita de importação e, por conter THC, sua importação demanda mais burocracia e regulações.
Referencias: •NOVOTNA A, MARES J, RATCLIFFE S, NOVAKOVA I, VACHOVA M, ZAPLETALOVA O, GASPERINI C, POZZILLI C, CEFARO L, COMI G, ROSSI P, AMBLER Z, STELMASIAK Z, ERDMANN A, MONTALBAN X, KLIMEK A, DAVIES P; Sativex Spasticity Study Group. A randomized, double-blind, placebo-con- trolled, parallelgroup, enriched-design study of nabiximols* (Sativex®) as add-on therapy, in subjects with refractory spasticity caused by multiple sclerosis. European Journal of Neurology. 2011;18: 1122–1131. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21362108>. Acesso em: 06 de outubro de 2019. •PATTI F, MESSINA S, SOLARO C, AMATO MP, BERGAMASCHI R, BONAVITA S, BRUNO BOSSIO R, BRESCIA MORRA V, COSTANTINO GF, CAVALLA P, CENTONZE D, COMI G, COTTONE S, DANNI M, FRANCIA A, GAJOFATTO A, GASPERINI C, GHEZZI A, IUDICE A, LUS G, MANISCALCO GT, MARROSU MG, MATTA M, MIRABELLA M, MONTANARI E, POZZILLI C, ROVARIS M, SESSA E, SPITALERI D, TROJANO M, VALENTINO P, ZAPPIA M. Efficacy and safety of cannabinoid oromucosal spray for multiple sclerosis spasticity. Journal Neurology Neurosurgery Psychiatry. 2016;87(9):944-51. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27160523>. Acesso em: 07 de outubro de 2019. •MARKOVÀ J, ESSNER U, AKMAZ B, MARINELLI M, TROMPKE C, LENTSCHAT A, VILA C. Sativex® as addon therapy vs. further optimized first-line ANTispastics (SAVANT) in resistant multiple sclerosis spasticity: a double- blind, placebo-controlled randomised clinical trial. The International Jour- nal of Neuroscience. 2019;129(2):119-128. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29792372>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
Esclerose Amiotrófica Lateral (ELA)
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva que cursa com a morte de neurônios, levando o paciente a incapacidade física. A doença é marcada por sintomas como a fraqueza muscular, dificuldade para deglutir, falar, chegando a acometer a capacidade respiratória do individuo, com desfecho fatal . Hoje o único tratamento médico aprovado é o Riluzol.
Alguns estudos apontam o uso dos canabinoides como favorável, utilizados como adjuvante ao tratamento da esclerose lateral amiotrófica pelos seus efeitos neuroprotetores, antiinflamatórios e antioxidantes, podendo levar a um atraso no processo apoptótico (morte) dos neurônios.
Lembramos que o uso de CBD e THC não é considerado como uma droga modificadora da doença, porém poderia auxiliar na melhoria de alguns sintomas como a espasticidade motora, depressão, dor crônica, ansiedade e os distúrbios do sono vivenciados por esses pacientes, melhorando em muito sua qualidade de vida e os cuidados necessários por parte da família.
Referencias:
https://www.abrela.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Parecer-ABrELA-Cannabis.pdf
Transtorno do Espectro Autista
O Transtorno do Espectro Autista engloba diferentes distúrbios do neurodesenvolvimento, apresentando três características fundamentais, que podem manifestar-se em conjunto ou isoladamente. São elas: dificuldade de comunicação, dificuldade de interação social e padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Muitas vezes relacionadas com retardo mental.
Dentre os transtornos do espectro autista se destacam: O autismo clássico, a síndrome de Asperger, distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação. Alguns casos assumidamente de origem genética como a síndrome de Angelman, síndrome de Rett e a Síndrome do X Frágil, porém na maioria dos casos a causa permanece desconhecida. •Segundo Aran e colaboradores, em pacientes que padecem de desordens do espectro autista existe uma diminuição da circulação de endocanabinoides.
Estudos realizados pela Universidade de TelAviv sugerem que o uso de CBD melhorou sintomas como: raiva, auto mutilação, hiperatividade, insônia e ansiedade. Sendo uma terapêutica segura e eficaz no tratamento de crianças com o espectro autista, melhorando o prognóstico e qualidade de vida desse paciente e um conforto para familiares.
Referencias: •TRAMER MR, CARROLL D, CAMPBELL FA, REYNOLDS JM, MOORE RA, MCQUAY HJ. Cannabinoids for control of chemotherapy induced nausea and vomiting: quantitative systemic review. BMJ. 2001;323:16–21.
Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11440936>. Acesso em 07 de outubro de 2019. •MACHADO ROCHA FC, STÉFANO SC, DE CÁSSIA HAIEK R, ROSA OLIVEIRA LM, DA SILVEIRA DX. Therapeutic use of Cannabis sativa on chemo- therapy-induced nausea and vomiting among cancer patients: systematic review and meta-analysis. Eur J Cancer Care (Engl). 2008;17(5): 431-43.
Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18625004>. Acesso em 07 de outubro de 2019. •VELISKOVA J, SILVERMAN JL, BENSON M, LENCK-SANTINI PP. Autistic traits in epilepsy models: why, when and how? Epilepsy Research. 2018;144:62-70. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29783181>.
Acesso em: 07 de outubro de 2019.
ARAN A, EYLON M, HAREL M, POLIANSKI L, NEMIROVSKI A, TEPPER S, SCHNAPP A, CASSUTO H, WATTAD N, TAM J. Lower circulating endocanna- binoid levels in children with autism spectrum disorder. Molecular Autism. 2019; 10:2. Disponível em: <https://molecularautism.biomedcentral. com/articles/10.1186/s13229-019-0256-6>. Acesso em: 20 de setembro de 2019.
POLEG S, GOLUBCHIK P, OFFEN D, WEIZMAN A. Cannabidiol as a suggested candidate for treatment of autism spectrum disorder. Prog Neurop- sychopharmacol Biol Psychiatry. 2019;89:90-96.
Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30171992>. Acesso em: 07 de outubro de 2019. BARCHEL D, STOLAR O, DE-HAAN T, ZIV-BARAN T, SABAN N, FUCHS DO, KOREN G, BERKOVITCH M. Oral Cannabidiol Use in Children With Autism Spectrum Disorder to Treat Related Symptoms and Co- morbidities. Frontiers in Pharmacology. 2019; 9:1521. Disponível em: <https://www.fron- tiersin.org/articles/10.3389/fphar.2018.01521/full>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
Cancêr e Tratamento Quimioterápico
Configura uma das indicações terapêuticas mais clássicas do uso da cannabis na medicina, lembrando que muitas vezes os pacientes oncológicos apresentam quadros de caquexia e dor crônica.
Os canabinoides apresentariam um importante alívio da dor crônica e melhora do apetite, podendo ser de grande auxílio na melhora da qualidade de vida desses pacientes.
Os canabinoides poder ser utilizados mesmo durante a quimioterapia devido à redução de náusea e vômitos desencadeados pelo tratamento oncológico. Uma meta-análise de 30 ensaios clínicos randomizados, avaliou a segurança e efetividade do uso de canabinoides como tratamento dos sintomas de náusea e vômitos induzidos pela quimioterapia, ratificando resultados favoráveis ao uso.
Referencias:
TRAMER MR, CARROLL D, CAMPBELL FA, REYNOLDS JM, MOORE RA, MCQUAY HJ. Cannabinoids for control of chemotherapy induced nausea and vomiting: quantitative systemic review. BMJ. 2001;323:16–21. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11440936>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
MACHADO ROCHA FC, STÉFANO SC, DE CÁSSIA HAIEK R, ROSA OLIVEIRA LM, DA SILVEIRA DX. Therapeutic use of Cannabis sativa on chemo- therapy-induced nausea and vomiting among cancer patients: systematic review and meta-analysis. Eur J Cancer Care (Engl). 2008;17(5): 431-43. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18625004>. Acesso em 07 de outubro de 2019.
Um pouco mais Sobre a Cannabis
1. História da cannabis no Brasil
2. Legalização da cannabis medicinal no Brasil
3. A Cannabis Medicinal no Mundo
4. Definição do termo “maconha” ( desmistificando o cannabidiol-CBD)
5. Doenças tratadas com o tratamento sob prescrição OFF LABEL